quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Quincas Borba

I want not to want anymore.

Leia Nietzsche! Coloque Nirvana no talo! Se a insatisfação for suficiente, ainda misture boas doses de bebidas, antidepressivos ou qualquer coisa que desperte no caro leitor, a moda da bipolaridade. Pronto, o estado de espírito presente é o prenúncio de um disfarce que revela-se ao relativismo de uma verdade. Agora, antes de cortar as orelhas, assista a performance de Marina Abramovic, “The Onion” (1996), principal destaque da Galeria Brito Cimino, de cara nova, após 10 anos de atividade no circuito brasileiro de arte.

Freud. Lacan... não precisa ser psicanalista para compreender o estado depressivo maquiado que a contemporaneidade impõe aos pós-modernos. A doença do pós-modernismo está diagnosticada no que Sartre chamou de “Náusea”, uma descoberta perplexa de ausência do sentido da vida e a incapacidade de modificar alguma condição que possa transformar essa percepção. Ao citar a "Náusea" como causa psicológica e conseqüência do contemporâneo, deixo que uma individualidade emocional possa a ser expressa no texto, o que não seria interessante, uma vez que, correr-se-ia o risco de perder-se no caminho perigoso do senso comum, de tropeçar no gosto, e beijar o chão com o achismo, que eliminaria a priori o senso critico necessário. Mas, se optarmos ainda pela visão relativista da filosofia, o sentimento é fundamental no trabalho critico: perceber, captar, sentir. O tato, mesmo que seja com o olhar (e isso não é impossível) faz-se necessário para que a bagunça que a semiótica e o contemporâneo, felizmente, fizeram em relação à arte, possam ser observadas, digeridas e engolidas. O fato é: racional ou não, não dá para falar de vida sem expor a emoção.

Marina Abramovic, em breve biografia, já foi Iugoslava, Serva-Montenegrina, e hoje não sei se só Serva ou decididamente Montenegrina. A confusão criada pelas fronteiras da extinta URSS, e as barreiras étnicas que impomos uns aos outros são suporte suficientes para uma arte crítica e política que embora importante e necessária, não limitou a artista a abordar outros temas e explorar a arte em diversas possibilidades através da performance, que surge como uma verdadeira identidade, a registra como cidadã do mundo.

Quem nasce na guerra deve preocupar-se exclusivamente com as batalhas. Entre bombas e metralhadoras, procurar abrigo nem que seja em um dos lados, torna-se a razão e a emoção dos refugiados, a vida é consumida pelo conflito. Essa é a impressão verdadeira e simultaneamente superficial da maioria das pessoas. Nascer na guerra é preocupar-se com o conflito sim, vive-lo, senti-lo, morrê-lo. Mas é também ignorar isso. Nascer na guerra não é ser palestino, haitiano, “iugoslavo”. É ser brasileiro, e não só favelado. Nascer na guerra é nascer no mundo, é ser homem.

O homem nasceu na guerra e os inimigos somos nós mesmo! Abrigamos-nos no preconceito; cores, raças, etnias; Limitamo-nos às definições, nos ismos; Nossas moedas valem mais e valem menos; pobreza e miséria! Nossos deuses brigam em demonstração de fé e poder; Achamo-nos superiores sem sentido, desempenhamos nosso papel, aprendemos a ser útil, a nos prostituir, a nos vender, como máquinas, de corpo e alma, sem parar, mais e mais, dia a dia, abandonamos o viver, para pagar a conta da televisão a cabo, para comprar roupas, sustentar o luxo que nem podemos aproveitar, pois amanhã já teremos que trabalhar de novo. Então percebemos que a resposta para o inexorável esforço físico e mental é apenas resultado de uma implacável busca para a explicação da vida. Somos tão especiais que devemos, ao contrário do resto do universo, ter alguma missão, algum sentido. Somos egoístas, individuais e por isso o pós-moderno é apenas o resultado final de um processo de vida e produção, voltada a si mesmo. O espetáculo está no consumo. Nos planos que devemos ter. Nos valores de homem ideal, fabricado e vendido pelo humanismo. Somos 6 bilhões e todos sem exceção se sentem sozinho. É ai que entra os divãs, as bebidas, Kurt Cobain e muito de Nietzsche.

Felicidade instantânea, transtornos e decepções e sobreviver a si mesmo. Marina Abramovic degusta a vida como ela é. Experimente as lágrimas! Descasque a farsa! E quem sabe: ao vencedor, as cebolas!

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